A Sociedade Exige Paz, Mas a Constrói? Um Modelo de Redação que Provoca Reflexão e Inspira Escrita Argumentativa

Em 2008, lancei um blog chamado Redação Viva, onde publiquei, em novembro de 2009 um modelo de redação dissertativa a partir do tema “Criminalidade, violência e insegurança coletiva: a sociedade exige paz!”, o qual fora proposto em 2007 no concurso da Polícia Militar do Espírito Santo, organizado pela, então, Cespe/UnB. O objetivo era simples: demonstrar as características de um texto bem estruturado para estudantes que desejavam aprimorar suas redações. O que eu não esperava era que esse texto fosse além, servindo como referência para muitos candidatos se preparando para concursos públicos, especialmente na área militar.

Esse modelo de redação se destaca por apresentar uma tese bem definida e explorada. Desde o início, o texto posiciona-se de forma clara: a violência e a criminalidade são problemas que emergem de falhas estruturais na sociedade, como desigualdade social, preconceito e descaso estatal. Essa tese é reforçada ao longo do texto por meio de uma argumentação que não se limita a opiniões genéricas, mas se ancora em dados da realidade e conexões lógicas.

Um dos aspectos mais marcantes da redação é a estrutura argumentativa sólida. Procurei usar exemplos concretos e bem contextualizados, como a menção aos traficantes cariocas e às condições insalubres das favelas, para ilustrar como o ambiente social molda indivíduos que posteriormente engrossam as estatísticas da violência. A analogia com os bombardeios no Oriente Médio é eficaz para reforçar a ideia de que respostas violentas não solucionam problemas complexos, seja em cenários locais ou internacionais. Essa abordagem demonstra domínio do tema e capacidade de extrapolar o argumento para contextos maiores, o que agrega profundidade à análise.

A progressão textual é outro ponto forte. O texto apresenta uma lógica clara que conduz o leitor da introdução, onde o problema é contextualizado, até a conclusão, que propõe uma solução concreta. Essa progressão é sustentada por conectivos bem empregados, como “agora”, “porém” e “não que a polícia não tenha que agir”, que garantem a coesão entre as partes do texto. Além disso, o texto mantém uma coerência interna, com ideias que dialogam entre si sem contradições.

Outro elemento positivo é a abordagem crítica, que vai além de apontar problemas. A redação explora causas profundas da violência, como a exclusão social e o preconceito, e questiona a responsabilidade coletiva da sociedade. Frases como “com que direito uma sociedade que gera ‘monstros’ pode reclamar da monstruosidade?” provocam o leitor a refletir sobre o papel de cada indivíduo e das instituições na perpetuação do problema. Essa crítica é fundamentada, não apenas emotiva, o que contribui para a seriedade do texto.

O uso de recursos externos, como a citação da jornalista Ana Maria Tahan, agrega credibilidade e conecta a redação ao contexto real. Essa referência fortalece o argumento de que o Estado, embora responsável por garantir a segurança, muitas vezes se encontra despreparado para enfrentar a complexidade do problema. A inclusão de fontes externas, ainda que breve, demonstra que busquei embasamento para sustentar os pontos de vista.

Por fim, a proposta de solução apresentada é coerente com os argumentos desenvolvidos. Ao sugerir investimentos em educação, fortalecimento das relações sociais e ações voltadas para crianças em situação de vulnerabilidade, o texto direciona o foco para a prevenção, em vez de insistir apenas na repressão. O destaque às ONGs como exemplo de iniciativas bem-sucedidas oferece um caminho viável e mostra que soluções já existem, embora precisem ser ampliadas. Essa conclusão amarra o texto, encerrando-o de forma propositiva e prática, sem deixar questões em aberto.

Em resumo, a redação é um modelo exemplar de texto dissertativo-argumentativo. Ela combina uma tese clara, argumentos consistentes e bem fundamentados, coesão textual e uma solução prática e conectada à realidade. Esses elementos a tornam relevante tanto como exercício acadêmico quanto como reflexão social.

Se você deseja conferir o texto original que inspirou essa análise, aproveite para lê-lo agora. Ele não apenas exemplifica as qualidades discutidas, mas também convida a uma reflexão mais ampla sobre o papel da sociedade na construção da paz.

A sociedade precisa construir a paz que tanto exige!

Diante das atrocidades que, aos poucos, vêm-se banalizando nos grandes centros urbanos, é comum ouvirmos gritos de protesto, gemidos de dor de mães que veem devorados a bala filhos menores, muitos em tenra idade e nos revoltamos. Passada, no entanto, a euforia do momento, “o calor da barbárie”, cada um volta aos seus afazeres, e a vida continua. A injustiça continua, a violência continua. A indiferença, o abuso de poder, a morte. Resta-nos perguntar: com que direito uma sociedade que gera “monstros” pode reclamar da monstruosidade?

Não precisamos pensar muito para que logo nos venha à memória que os “poderosos traficantes” das favelas cariocas, os “temíveis chefões” do Comando Vermelho ainda outro dia corriam, remelentos por vielas estreitas, pelo meio das quais um esgoto fétido passeava, trazendo mosquitos e doenças. Sim, a sociedade que hoje geme é a mesma que vem expurgando essas crianças pobres do acesso aos meios lícitos de produção. É a mesma sociedade que olha com preconceito o belo rapaz negro que desce o morro para procurar emprego digno. As raízes desse mal? O descaso, a ingerência do Estado, a falência do setor privado em amenizar a desigualdade social.

Agora, o abacaxi está nas mãos do poder público. Como não estamos em Guerra Santa (não tão santa assim) como Israel e Palestina, nem somos tão canalhas para bombardear civis inocentes e pôr abaixo barracos e escolas, resta-nos reconhecer que o Estado precisa agir, que é sua responsabilidade garantir a segurança da população, mas que não se faz idéia de como fazer, ou de o que fazer. Quando Ana Maria Tahan registra no Jornal do Brasil que “Os traficantes do Rio colocaram de joelhos ministros, secretário de Estado e jornalistas”, confirma o que vimos falando.

Ao nos depararmos com a afirmação de que quem vive no Rio exige a derrota incondicional dos bandidos, é inevitável nos lembrarmos dos bombardeios de Israel na faixa de Gaza. Não que a polícia não tenha que agir, mas, se essa fosse a solução, há muito a violência teria sido erradicada do Brasil, bem como a paz instaurada no Oriente Médio. Porém, o que tem funcionado no combate à criminalidade, apesar dos tímidos e individuais esforços, é a ação das ONGs, que têm olhado, não para os adolescentes de arma em punho que ostentam poder e dinheiro, mas para os “fernandinhos” e “malucos” que, remelentos, correm pelas vielas em meio ao esgoto fétido que continua poluindo as favelas.

A solução? Investir no homem, no fortalecimento das relações sociais, na educação social, que mostra às crianças um horizonte além do tráfico de drogas. Como fazer? As ONGs dão o exemplo. A internet divulga. Só não enxerga quem não quer. E os monstros? Esses se digladiam até à morte, e morrem cedo. A sociedade precisa cuidar de não produzir mais deles. (Welliton de Resende Zani Carvalho, acessado em 19/12/2024 em https://redacaoviva.blogspot.com/2009/11/texto-modelo-para-auxiliar-no.html)

Para quem deseja aprimorar a escrita argumentativa, refletir sobre o próprio texto é um passo fundamental. Além de entender as características que tornam um texto dissertativo-argumentativo sólido, é importante exercitar o olhar crítico sobre os próprios processos de escolha de temas, estruturação de ideias e relevância social. Pensando nisso, deixo abaixo algumas perguntas que podem guiá-lo nessa reflexão, ajudando a identificar pontos de melhoria e fortalecer sua capacidade de construir textos impactantes e bem fundamentados:

1. Minha tese está clara e bem definida? O leitor consegue identificar, já na introdução, meu posicionamento e a direção dos argumentos que irei desenvolver?
2. Os argumentos que utilizei são sustentados por exemplos, dados ou referências confiáveis que ampliam a credibilidade do texto? Há um equilíbrio entre análise crítica e fundamentação?
3. Proponho uma solução ou reflexão que vá além da crítica? Minha conclusão oferece um fechamento lógico, apresentando caminhos para a resolução do problema ou ampliando o debate?
4. Meu texto utiliza uma estrutura coesa, com conectores adequados e ideias que fluem de forma lógica? Como posso melhorar a progressão textual para facilitar a leitura e compreensão?

A autocrítica é o primeiro passo para a produção de um texto dissertativo realmente impactante. Por isso, na fase de aprendizado e preparação para o concurso público, seja você o primeiro a refletir sobre a sua redação e sobre que aspectos podem ser melhorados.

Muito sucesso a todos!

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